domingo, 2 de agosto de 2009

AMAR É ABRIR GAVETAS

Acredito piamente no que certa vez tentaram me fazer acreditar:
- Que eu sou uma pessoa excessivamente inteligente e demasiadamente certa! Tirando a parte do demasiado certo, eu me acho inteligente, só tiraria o excessivo, porque isso eu não sou; Se eu fosse de fato essa sumidade em inteligência eu saberia certamente como me portar diante das peripécias que o meu coração me arma.

Esta noite eu tirei para abrir as gavetas. Coisa que eu não fazia há muito tempo. Eu tenho medo de abrir gavetas, e mesmo com a minha mudança de casa há dois meses e minha instalação no novo quarto, nova sala, eu não me atrevi a abrir as gavetas que guardavam grandes respostas do meu passado, e dos momentos de alegria e tristeza de minha vida.
A cada dia que passa, eu vou acumulando papéis e cartas, e versos e cartões e envelopes nas gavetas que mais estão próximas de mim, e de quando em quando, resolvo abrir essas gavetas e encontro coisas que as vezes tenho medo de abrir. Não chega a ser um medo de nível "desesperador", mas é um medo diferente, um toque no indesejado, um frio sem aquecimento.

Abrindo a primeira gaveta, encontrei envelopes fechados, nos anos mais críticos de minha vida, nos mais confusos momentos e até então nunca mais abertos ou visitados... 04/09/2001 foi a data da primeira carta que encontrei. Reli e fiquei perplexo diante de tanta coisa que me tocou fundo... uma amizade eterna, uns votos tímidos de amor eterno, e uma declaração de amor escondida, meada as lágrimas e ao enigma de uma amizade que ia além de simples e pura.

Durante muito tempo, fui tímido, recatado e extremamente enigmático na demonstração de sentimento, e na altura do mês de setembro do ano em questão, eu sabia manipular muito bem as palavras da verdade, e mesmo após a psicossomassia que me acometeu continuei com essa postura e nem mesmo o medo ou a angústia me fez ser mau ou severo.

O que mais me intrigou foi um envelope aberto com um estilete e com uma folha de papel quase totalmente em branco, e no rodapé uma frase: "esta folha em branco, pode dizer qualquer coisa, mas o teu silêncio me incomoda", e hoje eu penso, o quanto o silêncio que foi meu há tanto tempo, incomodou uma certa pessoa, e hoje o quanto o silêncio me incomoda também! Engraçado, o quanto os papéis se invertem. Hoje eu fico morrendo de vontade de colocar todo dia uma carta nos Correios e a mandar a todo momento um SMS, e escrever um e-mail a cada meia hora, e o desejo de escrever um poema a cada hora!!!

Estou morrendo de saudade e acho que foi isso que me fez abrir as gavetas, foi isso que me fez ocupar o tempo vazio que me acomete, para tentar afugentar a saudade e a falta que sinto desta pessoa que está tão longe de mim!

Como abrir gavetas, dói! Seja para esvaziar o lugar em um escritório na demissão, seja para retirar os ossos de um cadáver depois de anos de sepultamento!!!
Dói muito quando é para limpar a sujeira do passado, ou para guardar as lembranças de um presente conturbado!

Doer e abrir gavetas tem o mesmo significado, por isso passo tanto tempo sem abri-las. Tenho medo da dor! Acho que é a única coisa que tenho medo hoje. Não estou disposto a abrir esta gaveta de novo por tão cedo, porque acredito que o meu amor não foi descoberto para ser guardado em uma gaveta, ou dentro de um livro, para ser demonstrado e vivido e sei que este amor vai crescer, mais do que eu um dia pude.

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O Brasão dos Sátiros