domingo, 11 de novembro de 2018

DESABAFO E POLÍTICA

Eu ia anular meu voto. Mas comecei a pensar que prefiro ser livre para protestar, colocar na cadeia aqueles que forem corruptos, e ter direito de acreditar na democracia e no poder da justiça, ainda que desacreditada.

Não estou disposto a apostar na sorte se vamos ter alguém que será contra tudo o que vem falando, ou se será um ditador confesso, daqueles que mandam bater, matar e pendurar no pau de arara todos aqueles que quiserem falar contra o seu governo.

Não quero ter a dúvida se vamos ter um governo que após ser empossado, seja capaz de expulsar todo o judiciário e o legislativo à bala, dos seus postos, e que se implante uma ditadura daquelas que só se vê em filmes americanos.

Não quero arriscar, se teremos isso, ou aquele mundo maravilhoso que vemos nos folhetinhos das religiões mais delirantes em que os leões estão junto com as crianças.

O risco da falta de liberdade me assusta. Aprendi ser livre, lutamos por anos, para conquistar isso e por isso quero ter a certeza de que vou votar em alguém que não seria contra o processo democrático da defesa e permita as garantias fundamentais previstos em nossa Carta Magna.

Odeio o PT por ter frustrado tanta gente e, assim ter criado esse candidato que está aí, contudo, eu odeio mais o Bolsonaro por ter me feito escolher o PT para votar.

Odeio ter que olhar para a polícia e não acreditar nela, odeio ter medo de sair de casa à noite, por não saber se os piores são os bandidos ou a polícia que usa farda e tem armas na mão, por nunca saber se encontrarei os mocinhos nos becos.

Odeio ter pegado ranço por esta “raça eleita” chamada de cristãos, que diz amar a Jesus, mas despreza tudo o que Ele ensinou, dando ouvidos à voz de um homem desequilibrado que não consegue manter um diálogo decente sem promover ódio, e que me causa ojeriza.

Odeio ter acreditado que tudo iria mudar, quando o Brasil destituísse uma presidente eleita para um novo recomeço, e me odeio ainda mais porque embora soubesse que quando ela saísse assumiria outro partido incapaz de colocar um candidato que fosse concordar com os anseios da população, o que resultou nesta eleição tosca, medíocre e tão mal estruturada politicamente.

Sinto ranço por terem me feito ter vergonha de dizer que sou brasileiro, e morro de vergonha em ver por ai pessoas de outros países, lendo frases traduzidas como: "Sírios e imigrantes são a escória do mundo", ou então as afirmações do tipo "prefiro um filho morto que gay” e a grande chacota que foi uma das primeiras falando com uma mulher ainda nas dependências do Congresso "não te estupro porque você não merece... vagabunda" – além daquela máxima do “quando um filho ficar assim, meio gayzinho, dá um couro que ele vira homem”!

Odeio este cara por ter feito o povo seguir um senso comum, de que tudo se resolve à base da bala, e odeio mais ainda o Brasil por estar acreditando que ele, com sua bala vai lhe proteger da escória, o que é uma pena, pois o egoísmo de acreditar que vai ser o protegido irá coloca-los à frente da mesma bala, para morrer mais tarde.

Comecei a ter cisma do nosso hino nacional, justo eu que sempre me emocionei ao ouvir a sua letra. Sempre fiz posição de respeito quando o escuto. Eu odeio este candidato pelo fato de ele me fazer sentir isso. Eu não acredito no que ele representa, e fico triste demais em saber que tem pessoas considero amigos que estão engajados na luta por este cara, e em seu nome irá cometer a atrocidade do seu voto, e que não importa o que eu diga, o senso comum e a rasa concepção de pesquisa lhes colocaram nesta posição.

Nunca fui petista, e nunca votei no PT, não tenho esse negócio de esquerda e direita, e acho que os extremos são burros, e aqui estou eu, votando em alguém simplesmente por não concordar com uma ideia de alguém.

Estou triste por ter que votar assim, e por ter que votar por acreditar em mim mesmo, não porque eu vá mudar o mundo, mas porque eu quero acreditar, porque me consola.

Em um mundo que todo mundo morre de medo de morrer, as pessoas não pensam duas vezes em matar, e não estou falando de matar no sentido lato, estou falando das minorias, dos homossexuais odiados em casa, primeiro pelos pais e famílias, depois pelas pessoas de modo geral e agora pelo candidato à presidência, que está colocando um país contra eles.

Estou preocupado com as mulheres, que terão salários menores, menos oportunidades. E ainda me preocupo com os jovens que além de estarem sendo tratados como massa de manobra, serão condicionados ao mesmo ódio do seu mentor.

Este desabafo? É para dizer ao mundo, que prefiro chorar uma possível derrota a passar pela vergonha de não ter lutado pelo que acredito, e ter dado vez ao que mais odeio: a hipocrisia.


Diadema, 27 de setembro de 2018.

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