sábado, 15 de outubro de 2011

PRIMEIRA VEZ VOANDO...

VASP - Viação Area de São Paulo (Divulgação)


São Paulo, aeroporto de Congonhas, 2004, mês de maio. Aproveitei o melhor mês para viajar, pois era o mês da baixa temporada e que sobra espaço nas aeronaves para os pobres adquirirem as suas passagens aéreas para todos os cantos do Brasil, por um preço bem acessível e facilitado no cartão de crédito em trocentas suaves prestações.

Depois de muitas pesquisas e cotações, não quis ficar com a mais barata, preocupado em ser a pior, e nem com a de preço intermediário por conta dos últimos acontecimentos desta companhia, há menos de dez anos havia caído um, outro havia desaparecido, e por via das dúvidas melhor não arriscar. Aliás, a primeira vez de avião deve ser marcante, mas nem tanto...

A recém falida VASP, estava já pedindo as contas, e foi nela que eu embarquei. Achei a nave bonita, o preço atraente e porque não unir o útil ao agradável? Caio no mundo.. e embarco no "mundo da aviação" por meio da VASP.

Primeiro transtorno: cancelam o meu vôo sem falar comigo!

Chego ao aeroporto às 11h, uma hora e vinte antes do meu horário previsto e sou notificado que o vôo havia sido cancelado, não sei por que motivo, e que foi transferido para o vôo das 14h20. Como se não bastasse esse cancelamento brusco, o das 14h20 teve um atraso de mais de uma hora e acabo embarcando no vôo das 16h20. Chego a Salvador já às 18h, depois de uma bela turbulência em pleno céu de Belo Horizonte. Uma senhora que ia ao meu lado com ar de madame, abre a sua revista cruza as pernas que mal dava para saber se ela usava uma calça ou se colocara uma trança sobre o colo, com muito mais medo que eu, tentava disfarçar... e eu não perdi um segundo desta cena. Meu medo já havia se transformado em ansiedade pelo pouso. 

Ela olhava para a revista, mas tenho certeza que não lia nada do que ali estava escrito, pois o canto do olho mirava o horizonte por trás das cortinas da janela do avião que dava para o lado esquerdo da asa enorme que balançava feito uma gangorra. Comecei a pensar nos muitos mitos que haviam colocado na minha cabeça, que passava por quebra-molas, que balançava demais, que dava para enjoar, mas nesse eu acreditei porque logo à minha frente tinha uma sacolinha para ser usada em caso de indisposição, (para não falar vômito), logo pensei na minha brilhante imaginação que não iriam colocar aquilo para enfeitar a poltrona, se ali estava certamente tinha alguma utilidade, ainda que fútil.

Antes de terminar de divagar pelo vasto e fértil terreno que é a minha mente, senti uma pontada na barriga. Senti que se não fosse logo teria sérios problemas pela frente. Corri ao fundo da aeronave da Boeing, um 737-200 e avistei aquele banheirinho lindo... ai que emoção!!! Nunca tinha entrado em lugar desses antes, me preparei como um Lord se prepara para encontrar a sua rainha...

Quando adentro, me surpreendo com o tamanho. Não poderia ser menor... mas perdoei, afinal, se não tem tanto espaço assim, lá dentro que todos vão espremidos, como teria espaço dentro de um banheiro de um avião?

Para minha surpresa a porta não trancava, ou eu não sabia como fazê-lo. Sei que foi quase 15min para segurar a porta com uma mão e com a outra abrir o zíper da calça, soltar o cinto, tirar a camisa social de dentro, agachar, sentar e fazer tudo o que tinha de ser feito e recolocar tudo de novo. Eu espero que ninguém do corredor tenha percebido a minha labuta para fazer isso. Se bem que se vissem acho que iriam ajudar, por que a situação era realmente deprimente e constrangedora.

No balanço do avião, não conseguia fazer nada! Imaginava que estava há milhares de metros de altura, a milhares de quilômetros por hora e sentia como se eu estivesse "cagando e andando" literalmente, ou seja: não conseguia.

Quando finalmente terminei minha profissão de fé, em passos largos eu me dirigi ao meu assento ao lado da famigerada senhora que já estava se deliciando dos petiscos que as aeromoças distribuíram quando eu estava me desatolando.

Mas a simpática moça voltou ao meu lugar e perguntou o que eu queria. Antes de eu perguntar o que tinha ela já me adiantou qual era o lanche do momento, e eu aceitei sem exitar muito, embora isso não seja do meu feitio, mas não podia dar vexame, principalmente ao lado da madame chique que estava à minha direita e por não ter parâmetros para comparar, o que poderia ser pior ou melhor.

Ela ainda estava no meio do seu lanche quando o avião deu um solavanco e ela deu um grito! Valei-me minha Nossa Senhora!!! Soltando o pão com manteiginha sobre o seu colo e todo o espaço que sobrava entre a poltrona do meio e ela... não pude me conter. Embora o medo também estivesse sobre mim, a vontade de rir era maior e tive de soltar uma gargalhada sem limite, o que fez com que até lá ela não olhasse para a minha cara, afinal de contas isso não se faz (se não estiver do meu lado, porque se tiver, faz sim).

Descobri de uma vez por todas, que ela não estava lendo coisa nenhuma, estava só olhando para as letras, para evitar fazer o que eu fiz no banheiro há pouco, mas no seu caso, de medo, e que ela estava comendo porque estava ansiosa e se deleitando em tudo o que via pela frente para ver se o tempo passava logo.

Mas de tudo isso o que importa é que eu desci do avião limpinho enquanto ela estava suja de suco e de queijo polenguinho que é tudo o que se serve dentro de um avião como esses...

Nenhum comentário:

O Brasão dos Sátiros