sábado, 24 de julho de 2010

Novembro de 2004, Calor, Porto Alegre

Eu sempre acreditei que não posso apostar naquilo que tenho certeza que não posso perder. A última vez que apostei alguma coisa, foi quando eu viajei horas e horas para encontrar a fonte do desgosto de minha juventude.

Foram 18 horas de ônibus com destino a Porto Alegre. Nunca na minha vida, tinha ido em direção ao Sul, e pela primeira vez que fui, fiquei com tanto medo que este sul parecia o fim. Cada foto que eu olhava fazia de mim um desesperado pelo amor de outrora.

Eu ainda não tinha aprendido a dominar meus sentimentos, e cada fagulha de saudade que exalava de mim, era capaz de dilacerar meu coração e me fazer um idiota pensador e um nato tolo com desejo de entregar a vida pela pessoa que amava e que neste momento era a única coisa que me importava.

Tudo o que eu via e encontrava, parecia pequeno ante o meu sentimento. Era como se cada coisa que eu via na minha frente, fosse capaz de dissipar tudo o que sentira; Era como se a flor do lótus que vem ao mundo uma vez a cada 100 anos, tivesse brotando no meu jardim, como a flor dos ideais humanos que nasce uma só vez na eternidade.

Eu não conseguia discernir o que era justo e o que era bom. E me entreguei de corpo e alma a este sentimento.

Quando menos dei por mim, não estava mais feliz. Havia em mim, um ressentimento e uma dor, uma certeza e uma solidão. Vi que o amor que até então tivera sentido se transformara em um pedaço de pau, podre e úmido. Isso era o amor.

Era tudo o que eu sentia, e que agora já era uma cinza, e uma quantidade pequena de um adeus solicito, e de um sussurro que se esvaia pela solidão e pelo eco profundo de um apito de adeus de um homem sofrido sobre seu cavalo, cansado de cavalcar os campos, atras de um amor, de um beijo de uma troca de carícia, de um gozo...

Deste dia para cá nunca mais chorei por ninguém, e tem de nascer quem me faça chorar de novo. Descobri também deste dia para cá que paus e pedras podem quebrar os meus ossos, mas palavras, NUNCA!

Porto Alegre, 15 de Novembro de 2004

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